quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Entrevistas



Nesta edição, o Boletim DeLetras entrevistou a professora  Eliane Mourão. A professora possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (1989), mestrado em Estudos Lingüísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (1996) e doutorado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003). Atualmente é professora do Curso de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Lingüística, atuando principalmente nos seguintes domínios: língua portuguesa (gramática funcional), ensino de língua portuguesa, lingüística textual, lingüística/ teoria da literatura.

BoletimDeLetras: Com sua experiência na área de Letras, interesse no campo da Lingüística e da Gramática Funcional; quais foram suas motivações para escolher como temática de pesquisa o uso da vírgula e quais resultados esse projeto tem apresentado?

Prof ª Drª Eliane Mourão: De um modo geral minhas pesquisas têm como ponto de partida o ensino. Portanto o mesmo aconteceu com a vírgula, eu queria ensinar aos meus alunos como usá-la. E comecei consultando a gramática tradicional que é a fonte mais imediata de pesquisa que temos sobre o assunto. Constatando uma série de problemas nesta gramática eu me propus a fazer um estudo para que pudesse entender em quais circunstâncias usamos vírgula. E posteriormente estipular o que seria mais adequado para o ensino dela.

BoletimDeLetras: No livro “Conversa com Lingüistas” foi perguntado a alguns estudiosos sobre a exata definição do que é Língua, Linguagem e suas relações sociais. Sendo a senhora uma intelectual da área, como você definiria o que é Língua, Linguagem e suas respectivas relações com a sociedade?

Prof ª Drª Eliane Mourão: Meu Deus! (risos). Vou mencionar apenas aquilo que é mais amplamente definido como linguagem e língua.: Costumamos pensar a linguagem como universo mais amplo e complexo que o de língua; como algo que utilizamos em nossas interações sociais. Consequentemente nela estão envolvidos, além daquilo que definimos como gramática, uma série de outros elementos. Então na constituição da linguagem temos, também, circunstâncias de uso da língua formadas, por exemplo, por nossas intenções, pelo contexto social e outros elementos extralingüísticos. Estes elementos são excluídos do estudo da língua. Esta, dentro da lingüística – e não dentro da gramática tradicional – é compreendida, mais como a gramática no que se refere àquele conjunto de regularidades estritamente lingüísticas que fazem parte da linguagem.

BoletimDeLetras: O livro “Por uma vida melhor” distribuído pelo MEC e direcionado ao projeto EJA (Educação de Jovens e Adultos) causou enorme polêmica, com grande apelo midiático, ao considerar que alguns “erros” são aceitos no idioma. Qual seu posicionamento sobre essa questão?

Prof ª Drª Eliane Mourão: Pausa (risos). Eu assumo, conforme os lingüistas em geral, que não existe erro. O que existem são os nossos diversos usos nas nossas diversas circunstâncias. Então eu concordo quando o livro coloca que não há erro lingüístico. Creio também que os jornalistas se utilizaram disso, e têm utilizado de forma absurda, para deformar o que é a proposição inicial de quem trabalha na área de lingüística.

BoletimDeLetras: Sendo a mídia uma importante fonte de informação, e um meio próprio para linguagem, qual deve ser sua abordagem em relação à padronização da língua; deve valorizar os usos mais próximos da fala ou resguardar a norma culta?

Prof ª Drª Eliane Mourão: Quando falamos da mídia estamos falando de algo muito amplo, pois ela envolve rádio, televisão, jornal, etc. E temos uma série de veículos com propósitos diferentes. Usar a norma culta ou usar algo mais próximo da nossa fala cotidiana vai depender do tipo de mídia, vai depender do propósito, então mesmo nesse contexto eu acho que não da para gente estipular de uma vez por todas qual deve ser o uso.

BoletimDeLetras: Levando em conta o contexto da formação do português brasileiro e sendo a linguagem um objeto de estudo, quais foram as grandes mudanças na maneira de se analisar a língua e qual o grande desafio para sua melhor compreensão no Brasil?

Prof ª Drª Eliane Mourão: Em relação à lingüística creio que podemos falar de mudanças. Ao longo do tempo tivemos uma mudança estritamente importante que foi sair apenas do estudo que se limitava à fala. Então hoje, no plano lingüístico, não pensamos apenas nas unidades fonológicas, apenas nas unidades sintáticas, mas começamos a pensar na constituição do texto. Outro fator importante é não pensar que o texto faz sentido autonomamente. Saber que existe uma série de outros elementos, inclusive extralingüísticos, contribuem para compreensão dele. Sair dos estudos descontextualizados o estudo foi um grande avanço. Um grande desafio hoje é reconhecer que as várias áreas da lingüística estão associadas umas com as outras. Por exemplo: como a entonação ajuda a construir o sentido, como a sintaxe também ajuda a construí-lo. Pensar, enfim, na possibilidade de integração dos vários níveis de análise com outras coisas que não são exclusivamente lingüísticas, como intenção e contexto, é um grande desafio.

BoletimDeLetras: Como profissional que exerce um trabalho próximo às escolas da comunidade de Mariana (MG), acompanhando o desenvolvimento didático dos alunos que estão prestes a se formar, qual é a sua visão sobre a formação que os alunos têm dentro da universidade como futuros professores?

Prof ª. Drª. Eliane Mourão: (risos). Faz pouco tempo que estou aqui na universidade, são só três anos. Mas nesse pouco tempo eu já notei alguns progressos importantes na formação dos alunos para exercerem a profissão de professor. Posso tomar como exemplo o trabalho que os professores daqui têm feito nos estágios, que são concebidos de uma forma radicalmente diferente da que era logo que eu cheguei aqui. Nós temos professores que trabalham regularmente com os estágios, antes eles eram designados aos professores substitutos, era essa a situação. Creio que essas mudanças estão acontecendo, vejo os professores que trabalham mais com a educação promovendo eventos e uma série de boas medidas. Entretanto devemos ter mais claro nosso propósito de formação de professores, sobretudo nós da área de Letras, que trabalhamos dentro das licenciaturas. Presumo que às vezes não pensamos numa disciplina em função dessa formação, e por mais teórica que as disciplinas sejam – e elas em certos momentos devem ser teóricas mesmo- elas têm que ter em vista essa formação para o ensino, mas muitas vezes isso se perde.










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